segunda-feira, 2 de maio de 2016

Livros do mês de maio

A Terra das Ameixas Verdes é uma obra sublime, um relato contido e agudo de existências em perigo sob a ditadura de Ceausescu. Romance político? Também. Mas é sobretudo um poderoso libelo contra a desumanidade tortuosa dos sistemas de governo cuja legitimidade deriva do silêncio e do medo. Um romance polifónico e anónimo: da maior parte das personagens conhecemos apenas o primeiro nome; da narradora, nem sequer isso… 
Partindo do (aparente) suicídio de Lola, uma jovem - a narradora anónima - encontra apoio num grupo de três rapazes que, com ela, se interrogam e procuram entender tanto a morte de Lola como a sua própria impotência perante um regime que não se abstém de humilhar e silenciar todos aqueles que ousam desafiá-lo. Os quatro irão enfrentar os meandros de um poder corrosivo que visa diminuí-los e isolá-los, aniquilando-lhes a vontade e a capacidade de ter esperança. 
Romance de resistência. Resistência ao silêncio asfixiante, porque cúmplice e perpetuador de despotismos, A Terra das Ameixas Verdes é um texto de «palavra difícil» porque as palavras apodrecem verdes na boca, trivializando experiências de terrível indizibilidade. Como dizer o medo da experiência? Como descrever a vontade de morrer? E no entanto, há o imperativo de dizê-lo. 
Entre o silêncio impossível e a palavra estrangulada, esta é uma história de feridas jamais fechadas e do despudor impenitente de uma ditadura insidiosa que, obrigando à interiorização, sobreviveu nas marcas inelidíveis que deixou nos corpos e nas almas.


Herta Müller

PRÉMIO NOBEL DA LITERATURA 2009

Nasceu a 17 de Agosto de 1953, na localidade de fala alemã de Nitzkydorf, na Roménia. Os seus pais pertenciam à minoria germânica da Roménia. O pai serviu durante a Segunda Guerra Mundial nas Waffen-SS. Muitos alemães da Roménia foram deportados para a União Soviética em 1945 e a mãe de Herta Müller foi uma delas. Passou cinco anos num campo de trabalho na actual Ucrânia. Estudou literatura alemã e romena na Universidade de Timisoara (Temeswar). Durante esse tempo, contactou com o Aktionsgruppe Banat, um círculo de jovens escritores de fala alemã que se opunha à ditadura de Ceausescu e procurava a liberdade de expressão. Depois de finalizados os estudos trabalhou como tradutora numa fábrica de máquinas entre 1977 e 1979. Foi despedida quando se negou a cooperar com a polícia secreta e a agir como informadora. Depois do despedimento, foi objecto de perseguição por parte da Securitate. 
Debutou na escrita com a coleção de relatos Niederungen (1982), que foi censurada na Roménia. Dois anos mais tarde, publicou-se uma versão não censurada desta coleção de relatos na Alemanha e, no mesmo ano, surgiu Drückender Tango, na Roménia. Nestas duas obras, Herta Müller relata a vida numa pequena localidade de fala alemã e a corrupção, a intolerância e a opressão que nela existem. Por este motivo, foi alvo da crítica da imprensa nacional, ao mesmo tempo que teve uma recepção muito positiva nos meios de comunicação de fala alemã no estrangeiro. Ao criticar publicamente a ditadura romena, foi castigada com a proibição de publicar no seu país. Em 1987, emigrou com o marido, o escritor Richard Wagner. 
Os romances Der Fuchs war damals schon der Jäger (1992), A Terra das Ameixas Verdes (1994) e Heute wär ich mir lieber nicht begegnet (1997) proporcionam com os seus pormenorizados detalhes, uma imagem da vida quotidiana numa ditadura estanque. Herta Müller foi professora convidada nas universidades de Paderborn, Warwick, Hamburgo, Swansea, Gainsville (Florida), Cassel, Gotinga, Tubinga e Zurique. Vive actualmente em Berlim. É membro desde 1995 da Deutsche Akademie für Sprache und Dichtung, em Darmstadt.


Plano Nacional de Leitura
Livro recomendado para Educação Pré-Escolar, destinado a leitura em voz alta.

Esta coletânea de contos vive da variedade. Inclui histórias de índole tradicional, outras dos tempos modernos mas, entre todas, sobressai a que lhe dá o título: Meninos de Todas as Cores, que a OIKOS e a UNICEF adoptaram como base de uma campanha conjunta contra o racismo e a segregação. Foi ponto de partida para uma maleta pedagógica, diversas exposições e tem percorrido o país em teatro de marionetas.

Luísa Ducla Soares

Luísa Ducla Soares nasceu em Lisboa a 20 de julho de 1939. É licenciada em Filologia Germânica pela Universidade Clássica de Lisboa. Iniciou a sua atividade profissional como tradutora, consultora literária e jornalista, tendo sido diretora da revista de divulgação cultural Vida (1971-2). Colaboradora de diversos jornais e revistas, estreou-se com um livro de poemas, Contrato, em 1970.
Foi Adjunta do Gabinete do Ministro da Educação (1976-8).
Trabalhou de 1979 a 2009 na Biblioteca Nacional onde iniciou a sua atividade realizando uma bibliografia da literatura para crianças em Portugal. Foi assessora principal desta instituição e responsável pela Área de Informação Bibliográfica. Aí organizou, no centenário de Andersen, uma exposição, acompanhada de catálogo, sobre Andersen em Portugal e diversas exposições.
Dedicada especialmente à literatura para crianças e jovens, em prosa bem como em poesia, publicou mais de uma centena de obras neste domínio.
Muitos dos seus poemas foram musicados (por Suzana Ralha, Daniel Completo, João Portugal, Óscar Ribeiro e outros compositores) tendo sido editados em diversos CD. Escreveu guiões televisivos sobre língua portuguesa para os mais jovens. É sócia fundadora do Instituto de Apoio à Criança. Realizou todos os sites de Internet da Presidência da República para crianças e jovens no mandato do Presidente Jorge Sampaio. Tem elaborado para o Instituto Português do Livro e das Bibliotecas e para o Ministério da Educação diversas publicações seletivas da literatura infantil nacional e internacional.
Junto de escolas e bibliotecas, desenvolve regularmente ações de incentivo à leitura. Participa frequentemente em colóquios e encontros, apresentando conferências e comunicações sobre a problemática relacionada com os jovens e a leitura e sobre literatura para os mais novos.
Recusou, por motivos políticos, o Grande Prémio de Literatura Infantil com que o SNI pretendeu distinguir o seu livro História da Papoila em 1973. Recebeu o Prémio Calouste Gulbenkian para o melhor livro do biénio 1984-5 por 6 Histórias de Encantar e foi galardoada com o Grande Prémio Calouste Gulbenkian pelo conjunto da sua obra em 1996. Foi candidata de Portugal ao Prémio Andersen.
Em 2004, foi escolhida pela Secção Portuguesa do IBBY (International Board on Books for Young People) como candidata ao Prémio Hans Christian Andersen. Em 2009, a Sociedade Portuguesa de Autores distinguiu-a com a sua Medalha de Honra. Em 2010, foi proposta pela DGLB como candidata de Portugal ao Prémio Ibero-Americano SM de Literatura Infantil e Juvenil.


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