O texto de Os Piratas, juntamente com outros, resultou da colaboração do autor
num projeto mais vasto ligado a um filme de Raúl Ruiz. Foi originalmente
publicado em livro em 1986, tendo o autor mantido o nome da personagem por ser
esse também o seu nome e o conto ser narrado na primeira pessoa, muito embora -
segundo advertência do próprio - nada tenha de autobiográfico. Esta nova edição
vem integrar-se na Biblioteca Juvenil do Autor que a ASA acaba de lançar e
inclui ilustrações com assinatura de José Emídio.
Jornalista e escritor, Manuel António Pina nasceu no
ano de 1943, no Sabugal, na Beira Alta, e
faleceu a 19 de outubro de 2012, no
Porto. Licenciado em Direito pela Universidade de Coimbra, em 1971, exerceu a
advocacia e foi técnico de publicidade. Abraçou a carreira de jornalista no
Jornal de Notícias, onde passou a editor. A sua colaboração nos media também se
distribui pela rádio e pela televisão.
Autor de
livros para a infância e juventude e de textos poéticos, a sua obra apresenta
uma grande coesão estrutural e reflete uma grande criatividade, exige do leitor
um profundo sentido crítico e descodificador."Brincando" com as
palavras e os conceitos, num verdadeiro trocadilho, Manuel António Pina faz da
sua obra um permanente "jogo de imaginação", tal labirinto que obriga
a um verdadeiro trabalho de desconstrução para se encontrar a saída.
Afirmou-se
como uma das mais originais vozes poéticas na expressão pós-pessoana da
fragmentação do eu, manifestando, sobretudo a partir de Nenhum Sítio, sob a influência de T. S. Elliot, Milton ou Jorge Luís
Borges, uma tendência para a exploração das possibilidades filosóficas do
poema, transportando a palavra poética "quer para a investigação do
processo de conhecimento quer para a investigação do processo de existência
literária" (cf. MARTINS, Manuel Frias - Sombras e Transparências da
Literatura, Lisboa, INCM, 1983, p. 72).
Transmissora
de valores, muita da sua obra infantil e juvenil é selecionada para fazer parte
dos manuais escolares, sendo também integrada em antologias portuguesas e
espanholas.
Os seus
textos dramáticos são frequentemente representados por grupos e companhias de
teatro de todo o país e a sua ficção tem constituído o suporte de alguns
programas de entretenimento televisivo, de que é exemplo a série infantil de
doze episódios Histórias com Pés e Cabeça,
1979/80.
Como
escritor, é autor de vários títulos de poesia, novelas, textos dramáticos e
ensaios, entre os quais: em poesia - Nenhum
Sítio (1984), O Caminho de Casa
(1988), Um Sítio Onde pousar a Cabeça
(1991), Algo Parecido Com Isto da Mesma
Substância (1992); Farewell Happy
Fields (1993), Cuidados Intensivos
(1994), Nenhuma Palavra e Nenhuma
Lembrança (1999), Le Noir (2000),
Os Livros (2003); em novela - O Escuro (1997); em texto dramático - História com Reis, Rainhas, Bobos, Bombeiros
e Galinhas (1984), A Guerra Do
Tabuleiro de Xadrez (1985); no ensaio - Anikki
- Bóbó (1997); na crónica - O
Anacronista (1994); e, finalmente, na literatura infantil - O País das Pessoas de Pernas para o Ar (1973),
Gigões e Anantes (1978), O Têpluquê (1976), O Pássaro da Cabeça (1983), Os
Dois Ladrões (1986), Os Piratas
(1986), O Inventão (1987), O Tesouro (1993), O Meu Rio é de Ouro (1995), Uma
Viagem Fantástica (1996), Morket
(1999), Histórias que me contaste tu
(1999), O Livro de Desmatemática e A
Noite, obra posta em palco pela Companhia de Teatro Pé de Vento, com
encenação de João Luís.
A sua obra
tem merecido, frequentemente, destaque, tendo sido já homenageado com diversos
prémios, como, por exemplo, o Prémio Literário da Casa da Imprensa, em 1978,
por Aquele Que Quer Morrer; o Grande
Prémio Gulbenkian de Literatura para Crianças e Jovens e a Menção do Júri do
Prémio Europeu Pier Paolo Vergerio da Universidade de Pádua, em 1988, por O Inventão; o Prémio do Centro Português
de Teatro para a Infância e Juventude, em 1988, pelo conjunto da obra; o Prémio
Nacional de Crónica Press Clube/Clube de Jornalistas, em 1993, pelas suas
crónicas; o Prémio da Crítica da Associação Portuguesa de Críticos Literários,
em 2001, por Atropelamento e Fuga; e
o Prémio de Poesia Luís Miguel Nava e o Grande Prémio de Poesia da APE/CTT,
ambos pela obra Os Livros, recebidos
em 2005. Em 2011 foi-lhe atribuído o Prémio Camões. Já a título póstumo foi
ainda galardoado com o Prémio de Poesia Teixeira de Pascoaes, pelo livro Como se Desenha uma Casa, e com o Prémio
Especial da Crítica dos Prémios de Edição Ler/Booktailors 2012, pelo livro Todas as Palavras – Poesia Reunida.
Manuel
António Pina. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2011.
Uma noite ninguém dorme, e durante a meia-noite e as
cinco da manhã, as pessoas sonham acordadas no sono: contam e inventam as suas
vidas e as suas histórias, ou as histórias em que transformam as suas vidas, ou
as vidas que transformaram em histórias.
Podem ser vidas cruéis, de medo, de uma cicatriz
interior, de algo que talvez fosse o Estado português de outros tempos.
Podem ser vidas de amores passados, de lápides
varridas, de um desejo de uma vida inteira, de se poder ser feliz sem pensar.
Nestas
histórias, nestes silêncios destas falas, nos risos e nas traições, vamos
identificando a noite de um país, a noite cheia de vozes de todos nós, e a
noite silenciosa que é o isolamento de cada um.
Como diz o autor - "porque aquilo que escrevo
poder ler-se no escuro".
Críticas de imprensa
"É o fim de uma noite de insónia que vai longa
e começou com quatro personagens a tentar adormecer à mesma hora em lugares
diferentes. Lisboa, Évora, Estremoz, Portalegre... Estão sozinhas com as suas
memórias e inquietações numa vigília que se vai tornando mais delirante, por
vezes quase demencial, à medida que a madrugada avança. Da meia noite às cinco
da manhã uma mulher que perdeu uma filha, outra mulher que nunca teve filhos,
um ex-polícia do antigamente e um ainda mais antigo proprietário rural vão
desfiando as suas vidas numa catadupa de lembranças que não passa por qualquer
filtro. E o único fio condutor dessa narrativa - que são, afinal, várias,
fragmentadas - , é feito das imagens e das vozes (a dos que já morreram e a dos
vivos) que surgem como flashes na desordem da insónia. A memória na sua
cadência onde todos os tempos se misturam para contar o tempo de um país."
Isabel Lucas,
Diário de Notícias
Escritor português nascido em 1942,
em Lisboa. Ficcionista e autor de alguns ensaios literários que
equacionam a
análise psicológica com a criação artística. Formado em Medicina Psiquiátrica,
exerceu atividade clínica durante a guerra colonial em Angola, e,
posteriormente, em Lisboa, no Hospital Miguel Bombarda. Depois da publicação de
Os Cus de Judas (1979), tornou-se um dos mais traduzidos e internacionalmente
reconhecidos romancistas portugueses contemporâneos, tendo sido o convidado de
honra do "Carrefour des Littératures" realizado em Maio de 2002. A partir
desse romance, que fecha uma trilogia de inspiração autobiográfica, que, com Conhecimento do Inferno e Memória de Elefante, descrevia uma
descida aos infernos, desde a experiência da guerra colonial até à perda do
amor e ao regresso a um mundo de loucos, Lobo Antunes aperfeiçoa, durante a
década de oitenta, uma cada vez maior desenvoltura na subversão das convenções
narrativas quer do ponto de vista temático quer formal, o que culminaria com o
fulgurante sucesso de Auto dos Danados
, editado em 1985, obra galardoada com o Grande Prémio de Romance e Novela da
Associação Portuguesa de Escritores. O constante cruzamento de vozes e a
multiplicação dos pontos de vista; o livre encadeamento dos substratos
temporais; a desarticulação da sintaxe narrativa; a metaforização insólita e
frequentemente erotizada das descrições; a autorreferencialidade e
intertextualidade; a versatilidade de articulação de diversos registos de
linguagem e a utilização de um léxico sem censuras, frequentemente agressivo e
injurioso; ou a individualização de anti-heróis através dos quais se perspetiva
uma realidade abjeta, social, histórica e moralmente degradada, são alguns dos
traços que consubstanciaram, desde então, a novidade trazida pela novelística
de António Lobo Antunes. Ao mesmo tempo, a autognose cruel do país pré e
pós-revolucionário é feita com uma violência e negatividade tais que visam, não
o lirismo de uma revolta impotente, mas, pelo contrário, tocando o humor negro,
a anulação de qualquer sentimentalismo na dessacralização das imagens de um
passado recente e na análise lúcida da loucura e desmoronamento coletivos. Na
edição dos prémios União Latina de 2003, o escritor foi distinguido com o
prémio de Literatura pelo conjunto da sua obra, que foi definida pelo presidente
do júri como "a voz mais expressiva" da realidade portuguesa. Em
2004, pelo seu livro Boa Tarde às Coisas
Aqui em Baixo (2003), foi galardoado com o prémio Fernando Namora. Em Março
de 2007 foi distinguido com o Prémio Camões, o mais importante galardão literário
em Língua Portuguesa, no valor de 100 mil euros.
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